Vera Dantas e Ana Paula Lacerda
O alvo são os políticos, mas o bordão 'peroba neles', marca registrada da campanha do candidato Osmar Lins Peroba, atingiu mesmo foi a King, fabricante do produto.'Óleo de peroba para quem é cara-de-pau já se tornou um jargão, mas incorporar a marca Peroba ao sobrenome é outra história', diz o gerente-geral de vendas da King, Sandro Kitagawa. No registro de nascimento, Osmar Peroba é Osmar de Oliveira Lins.
A King, há 80 anos no mercado, quase o mesmo tempo de existência do óleo de Peroba, é especializada em produtos para limpeza e tem sede no Rio. Mas foi informada sobre a campanha do candidato a deputado estadual por São Paulo. Ele é do Partido dos Aposentados da Nação (PAN) e não desgruda de um frasco de óleo de Peroba.
O caso foi para o departamento jurídico da empresa.'A King é familiar, tradicional e não quer tomar decisões precipitadas, mas está estudando o que fazer', diz Kitagawa. O candidato, que investe no efeito de marketing do óleo de Peroba, para se referir 'à cara-de-pau de certos políticos', desde 2000, ironiza. 'Eles deveriam é me agradecer porque nunca pedi um centavo para a empresa e estou fazendo propaganda de graça do produto', diz Osmar Peroba, que já disputou campanhas para vereador e prefeito.
Não é o que pensa a direção da King, que não vê com bons olhos a mistura de política com negócios, na maré de denúncias e escândalos envolvendo o meio político. 'Pode ser um risco.' Peroba, explica Kitagawa, é uma marca da empresa e a King já ganhou várias ações de concorrentes que tentaram usar o mesmo nome para vender produtos similares.
Produto hidratante para conservar a madeira, o óleo é o carro-chefe da King, com mais de 50% de participação no resultado de vendas. A empresa atende a um público tradicional de consumidoras que, de acordo com Kitagawa, pouco tem se alterado. No ano passado o crescimento foi de 4% em relação a 2004. 'A propaganda eleitoral não elevou em nada as vendas.'
Já Osmar Lins, que passou a campanha acompanhado de um frasco de óleo de Peroba, em seus 19 segundos de horário eleitoral, está convencido da sua contribuição às vendas do produto.'Fui outro dia a Sorocaba para um ato político e o estoque de óleo no mercado municipal estava esgotado. Eles devem estar vendendo muito.'
Outra empresa que não quer seu nome associado ao noticiário político é a fabricante de chuveiros Lorenzetti. Por coincidência, o sobrenome do presidente Aldo Lorenzetti é o mesmo de Jorge Lorenzetti, suposto integrante do esquema de compra de dossiê. 'Gostaria de esclarecer que este senhor não tem qualquer vínculo de parentesco familiar, pessoal ou profissional com esta empresa e seus acionistas. Infelizmente, trata-se de um homônimo', diz o comunicado enviado aos meios de comunicação. A Lorenzetti, fundada em 1923, já vendeu mais de 60 milhões de chuveiros no Brasil.