terça-feira, 31 de outubro de 2006

A nova fronteira da publicidade

Marili Ribeiro

O publicitário Evandro Soares, de 26 anos, faz no trabalho o que muitos sonham em fazer nas férias. Evandro é pago pela agência Africa para viajar. Sua missão é correr o mundo - sem gastar muito -, observar tendências de comportamento e novidades de comunicação, relatar o que viu para os colegas da área de criação e ajudar a transformar essas idéias em soluções práticas para os clientes.

Sua história faz parte de uma novidade nas agências de publicidade. Em busca de idéias inovadoras e numa tentativa de acompanhar a revolução tecnológica da comunicação online, as agências estão escalando profissionais para explorar a nova fronteira do conhecimento. A missão desses profissionais é bisbilhotar o mundo virtual e as tendências internacionais.

Evandro Soares, por exemplo, começou sua carreira de publicitário globe-trotter com uma viagem de 15 dias para Nova York. Gastou US$ 700, sem contar a passagem e a estadia, e voltou cheio de idéias. Entre elas, está uma proposta para popularizar a Vale do Rio Doce, cliente da Africa, junto aos operadores da Bolsa, em Wall Street.

“Notei que os operadores circulam muito pouco fora da área de trabalho e freqüentam os carrinhos de lanches e café o tempo todo”, conta Soares. “Poderíamos chamar a atenção deles com um carrinho com as cores do Brasil, junto com uma tela de plasma veiculando campanhas da Vale e informações do mercado financeiro.” A proposta será encaminhada nesta semana ao cliente. Em seguida, Soares embarca para uma pesquisa de 15 dias em Cingapura, Tóquio e Seul.

BLOGUEIROS

A Lew Lara também direcionou sua antena para as tendências internacionais, mas optou por um caminho diferente. Há pouco mais de um ano, a agência montou o site HUB, que abriga mensagens e fotos despachadas por 450 jovens blogueiros espalhados pelos quatro cantos do mundo. “É uma rede informal de informações alimentada por um olhar jovem, arejado e de pessoas loucas por tecnologia e novidades”, diz o diretor-geral do Núcleo de Conteúdo, Inovação e Tendência da agência, Ricardo Al Makul.

Do alto de seus 31 anos, Al Makul se define como o “tiozinho” da equipe que ele comanda aqui no Brasil. São dez jovens, entre 19 anos e 25 anos, que se dedicam a filtrar todas as informações enviadas pela internet e pôr no ar as mais inusitadas. Paralelamente, todo o material coletado é estudado e muitas das idéias acabam virando sugestões de ações de marketing para os clientes da agência.

A busca por novidades requer práticas também inovadoras. Com 15 anos de experiência na área de planejamento e 34 anos, Paula Rizzo resolveu revolucionar a própria carreira. Procurou a DM9DDB e propôs desenvolver um trabalho em que se dedicasse a repensar e achar os caminhos da comunicação na era digital. “Para minha surpresa, eles toparam e me deram total liberdade de começar esse trabalho, que não tem parâmetros no meio publicitário”, diz Paula.

A publicitária começou a prospectar o mundo virtual há alguns meses e, desde então, ela desenvolveu um blog de tendências, com a participação de 300 funcionários da agência, e preparou um curso para auxiliar todos a explorarem as melhores alternativas da internet. Do cruzamento das propostas nasceram 25 projetos, que estão sendo encaminhados aos clientes. Alguns deles envolvem aplicações ousadas de robótica.

Com a enorme quantidade de informações disponíveis na internet, as agências buscam novas fórmulas para processar o material e transformá-lo em ações práticas. Na FischerAmerica, a opção foi incorporar ao quadro de funcionários um blogueiro conhecido no meio publicitário, Carlos Merigo, criador do blog brainstorm9. Com 25 anos, o inquieto Merigo passa o dia fazendo um filtro das novidades que descobre ao navegar pela internet.

MESÕES

Na McCann Erickson a busca por novas formas de relacionamento produziu uma mudança do antigo modelo de operação da agência. Se antes imperavam as duplas de criação isoladas em salinhas no seu processo de trabalho, agora todos se ocupam das tarefas diárias em mesões coletivos, onde a troca de vivências e de informações é uma constante.

“Quem não se adaptou preferiu deixar a agência e 45 pessoas nos deixaram”, explica Adriana Cury que, ao lado de Júlio Castellanos, com quem divide a presidência da McCann, também trabalhará no mesmo esquema, num único salão sem divisórias. “O que tem de reinar aqui é a idéia, sem incentivo a qualquer egotrip tão comum entre publicitários”, diz ela. “Na nova configuração não tem coadjuvante, todos são protagonistas na hora da contribuição para se desenvolver uma campanha em sua múltiplas possibilidades. Afinal, a comunicação agora é multidisciplinar e nada é melhor ou mais eficiente na arte de impactar o consumidor”, conclui.
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