segunda-feira, 2 de outubro de 2006

Desafio: controlar a droga antiagitação

Em três meses, triplicou na rede municipal de saúde de São José do Rio Preto (SP) o consumo de Ritalina (nome comercial do metilfenidato), medicamento utilizado no tratamento de crianças com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). O TDAH atinge de 3% a 6% das crianças em idade escolar e causa problemas como desatenção e impulsividade, razão pela qual pode levar a um baixo rendimento escolar.

Entre maio e agosto deste ano, a demanda por Ritalina em Rio Preto saltou de 4 mil para 12 mil comprimidos por mês, o que acabou alertando a Secretaria de Saúde do município. Apreensiva com o abuso do remédio, a secretaria estuda agora rever critérios, inspirada no exemplo paulistano.

A Secretaria de Saúde da capital elaborou um protocolo com orientações sobre diagnóstico e tratamento do TDAH para os médicos da rede municipal. O objetivo é evitar o consumo exagerado. O coordenador de saúde mental de São Paulo, Kalil Duailibi, explica que a Ritalina fará parte da cesta básica de remédios do município e estará disponível nas unidades de referência até o final do ano. “Mas fizemos o caminho oposto. Capacitamos as equipes de saúde para depois distribuir o remédio.”

Outro município do Estado não só fará o mesmo, como ampliará sua aplicação. Em Ribeirão Preto, a política será adotada para tratamento não apenas do TDAH, mas das principais doenças psiquiátricas.

REORIENTAÇÃO

O desafio de frear a onda da Ritalina em Rio Preto não será dos mais fáceis. Na fila da única neuropediatra da rede pública da cidade, mais de mil crianças aguardam por uma consulta.

“Observamos que a escola tem problemas com as crianças agitadas e encaminham para o neurologista”, diz a coordenadora de Saúde Mental do município, Denise Donida.

O neurologista do Ambulatório Regional de Especialidades (ARE) de São José do Rio Preto, Fábio de Nazaré Oliveira, lida quase diariamente com essa situação. “Existem crianças com o diagnóstico bem definido, mas que não necessitam do remédio”, explica, referindo-se aos casos mais leves de TDAH. Para essas crianças a psicoterapia é uma solução. Para ele a procura dos pais pelo medicamento é resultado de informações incorretas que os levam a depositar a esperança de melhora em um comprimido. “Casos leves acabam sendo medicados quando poderiam ser tratados de outras formas.”

USO ADEQUADO

Mas existem casos em que as outras formas de tratamento não são suficientes e o remédio comprova sua eficácia. Foi o que aconteceu com Willian Ferreira, de 9 anos, ha sete meses tomando Ritalina. Irrequieto e indisciplinado, em casa e na escola, é um caso bem definido de TDAH. “ Ele melhorou 100% depois que passou a tomar o remédio”, diz sua mãe, Fabiana Ferreira.

Apesar dos bons resultados do remédio, o tratamento não é isolado. Os pais de Willian freqüentam sessões semanais de psicoterapia com o garoto. “Agora ele se concentra, obedece e até pede para ler”, diz.
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