AP e REUTERS
A agência de notícias estatal da Bolívia ABI divulgou ontem uma lista com os nomes de jornalistas e proprietários de meios de comunicação que fazem oposição ao governo de Evo Morales. É mais um grave episódio da difícil relação entre o presidente e grande parte da imprensa boliviana. Da 'lista negra', distribuída pela agência a seus assinantes, constam os nomes de analistas e comentaristas de rádio, TV e jornais apontados como 'inimigos do governo'. Também se destacam os membros das famílias Monasterios e Kuljis, controladoras respectivamente das redes de TV Unitel e Red Uno.
A nota da ABI afirma que os jornalistas citados 'criticam as 'tentações totalitárias' de governos populares que enfrentam o império', numa referência aos EUA. A agência também critica um relatório da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) que alertou para 'inquietante sinais' de riscos à liberdade de informação na Bolívia. 'A SIP atua exatamente do modo como atua o governo americano contra países como Cuba, Venezuela e Bolívia', diz a agência.
Em seu mais recente relatório, divulgado no domingo, a SIP criticou o governo boliviano por estar criando sua própria rede de comunicações com o apoio financeiro do governo da Venezuela, do presidente Hugo Chávez, e também pelas pressões do Executivo contra meios de comunicação que não dão apoio a Evo.
Junto com a nota, a ABI publicou um estudo em que afirma que 'os jornais foram mais equilibrados do que as emissoras de rádio e TV durante a eleição de dezembro (vencida por Evo), mas, em suas páginas de opinião, destilaram seu racismo e ódio' contra o atual presidente.
Depois da divulgação da lista, o senador governista Antonio Peredo - um dos mais importantes dirigentes do Movimento ao Socialismo (MAS), partido de Evo - qualificou de 'barbaridade' o fato de o governo manter contratos de publicidade com empresas de comunicação que 'não são se dão ao respeito' e 'fazem o jogo da oposição'.
No domingo, após tomar conhecimento do relatório da SIP, Evo qualificou os jornalistas que o criticam de 'os piores inimigos do país'. Ontem, após uma partida de futebol na qual os funcionários do governo derrotaram uma equipe de jornalistas por 11 a 1, o presidente boliviano voltou à carga contra a entidade.
'Os números estão aí, vocês sabem quem são (os jornalistas que atacam o governo)', afirmou Evo. 'São principalmente analistas. Alguns comentaristas nos tratam como loucos ou ignorantes, e isso é grave. Talvez fosse bom a SIP se preocupar também com isso.'
Evo disse que se considera 'vítima' de jornalistas que não o respeitam como se deve respeitar um presidente. 'Até mesmo alguns jornalistas estrangeiros vêm aqui para me ofender.'
'Se algum jornalista boliviano for à Espanha ou a qualquer outro país e passar a ofender seus chefes de Estado ou de governo, sei que serão expulsos imediatamente', prosseguiu Evo. 'Aqui não expulsamos ninguém e agimos sempre com a maior das tolerâncias.'
O presidente boliviano acusa com freqüência os veículos de comunicação da Bolívia de defender os interesses de seus proprietários em vez de informar. Por isso, afirma, pretende criar uma rede de rádios comunitárias e camponesas - plano também contestado pela SIP - para divulgar o trabalho do governo.
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